Mariana Posser de Andrade vencedora Ladies Cup em época “recheada” de revelações

Não foi chegar, ver e vencer, até porque já se estreara na derradeira jornada da época anterior, mas Mariana Posser de Andrade esteve quase a consegui-lo. E, como corolário do seu notável desempenho na Ladies Cup’2025, sucedeu a Mariana Machado como campeã da competição nascida do projeto conjunto da FPAK e da CRM Motorsport para dar oportunidade a novos talentos femininos de prosseguirem a sua carreira no automobilismo. A questão do título ficou decidida na terceira e última jornada, no primeiro fim de semana deste mês de dezembro, no Estoril. “Não deixa de ser curioso e engraçado o facto de a Mariana Machado ter sido a primeira pessoa com quem eu andei no Caterham. Pode dizer-se que foi a minha primeira instrutora e agora a temível adversária que não me deu descanso…”, revela a piloto de Cascais, que aos 31 anos conquistou o primeiro êxito no automobilismo, por uma diferença de 37 pontos face a Mariana Machado, apesar da sua reduzida experiência nestas andanças, já que ao contrário das suas rivais nunca correra nos karts.

Nas três jornadas da Ladies Cup (Portimão, Valência e Estoril) – disputada no âmbito da Caterham Motorsport Ibérica, promovida pela CRM Motorsport –, cada uma com 4 corridas, Mariana Posser de Andrade só não subiu ao lugar mais alto do pódio por duas vezes, por “culpa” de Mariana Machado. “A minha vitória na Ladies Cup foi tudo menos confortável, ao contrário do que os resultados possam deixar entender. Estive sempre submetida a uma enorme pressão por parte da minha adversária, porque eu sei do seu valor. Em Valência senti uma grande diferença e consegui avançar um pouco mais e destacar-me. Mas mesmo estando na frente, eu tinha consciência que ela, com o seu esforço, dedicação e perfecionismo, era capaz de chegar lá. Portanto, eu estava sempre receosa e para mim nunca foi fácil gerir as estratégias de corrida, de quando deveria ultrapassar ou não, entre outros detalhes. Mesmo que eu possa ser mais rápida que a Mariana Machado, ela terá uma ‘inteligência de pista’ que eu ainda não tenho…”, confessa a campeã.

O grande momento de Mariana Posser de Andrade na Ladies Cup’2025 aconteceu, confessou a própria, na última corrida da jornada de encerramento, do Estoril, quando já tinha assegurado a conquista do título:

“Aí senti-me livre de qualquer pressão e nada havia a salvaguardar. Portanto, poderia fazer o que bem entendesse, como forçar até ao limite. Assim fiz e obtive o melhor resultado do ano [4º lugar absoluto], uma vitória fantástica perante a minha família e os amigos que estavam lá a dar-me todo o seu apoio”.

Atribui o sucesso alcançado e a evolução registada durante a época ao seu coach, Ricardo Megre, que pretende manter para 2026, não esquecendo um conselho que guarda religiosamente e colocou sempre em prática: nada está ganho até ao baixar da bandeira xadrez!

“Agora, chega a parte mais difícil, que é angariar patrocínios para correr em 2026…”

Anabela Teles e Beatriz Correia:

Estreantes acabaram no pódio

Entre as jovens estreantes nesta edição da Ladies Cup, a madeirense Anabela Teles (24 anos) e a bracarense Beatriz Correia (18 anos) foram as melhores classificadas, conquistando um lugar no pódio, ao somarem mais 22 pontos que Francisca Queiroz e Matilde Magalhães. “Adorei a época, que foi bastante competitiva e gostei muito de ter ganho entre as estreantes”, começou por referir Beatriz Correia, oriunda de uma família (Correia) com fortes tradições nas provas de velocidade e montanha. É a mais nova dos pilotos lá de casa e começou pelo karting, até seguir as pisadas do pai (José Correia) e da irmã (Gabriela) na Montanha, guiando um Cupra TCR. “A Ladies Cup foi um projeto que me apareceu de repente e eu decidi, em boa hora, inscrever-me. Adoro carros de tração traseira e ainda por cima o Caterham é uma espécie de ‘brinquedo’, cuja condução tem muito a ver com a do karting. Portanto, senti-me sempre confiante e confortável”, acrescentou. Atualmente a estudar na Suíça, Beatriz ainda não tem planos definidos para 2026. “É possível que venha a disputar uma ou outra prova dos Caterham, mas, como estou a residir fora do país, ainda nada está decidido”.

Anabela Teles, que deu os primeiros passos no karting na sua Madeira natal quando tinha 9 anos, por influência de um colega do pai, cujo filho frequentava a escola de karting para crianças, teve a sua primeira experiência agora nos automóveis. “Já tinha participado na seleção de 2024 da Ladies Cup, só que não fui selecionada, mas gostei tanto da experiência que decidi tentar outra vez e este ano correu tudo bem”, conta esta licenciada em engenharia mecânica pela Universidade do Porto que pouco antes de concluir a sua tese já tinha emprego garantido na equipa de F.1 da Racing Bulls (Visa Cash App Racing Bulls Formula One Team). Trabalhou na sede da equipa, em Faenza (Itália) em 2024, até trocá-la, em julho último, pela da Cadillac Formula 1 Team, que vai estrear-se no Campeonato do Mundo de 2026, o que obrigou a uma mudança de residência para o Reino Unido.

“Sinceramente, não estava à espera de poder vencer esta época na Ladies Cup, porque a minha experiência não era comparável às outras colegas que entraram comigo na FPAK, as quais já haviam guiado automóveis de competição, sejam os Porsche ou carros de Montanha, enquanto eu não passara do karting. Foi a primeira vez que guiei um carro com caixa de velocidades num autódromo. Nos primeiros treinos e corridas eu estava uns bons segundos atrás nos tempos por volta face às adversárias, mas o César Campaniço e a FPAK sempre nos ajudaram em todos os capítulos. Agora, no final, já conseguia acompanhar o ritmo das minhas colegas e nós as 4 ficámos mais próximas das duas que estão na Ladies Cup há mais tempo”, explica Anabela.

Em relação ao futuro, a agora engenheira da Cadillac, que reconhece a ajuda e a visibilidade proporcionada pela FPAK, promete fazer todos os possíveis para conseguir os patrocínios indispensáveis para repetir na Ladies Cup em 2026 e sublinha, a propósito da sua profissão: “A experiência adquirida nas pistas ajuda a perceber um pouco melhor como é que um carro se realmente se comporta”.