Pedro Câmara Jr: “Os reflexos adquiridos no ‘mountain bike' ajudam-me bastante nos ralis”
Antigo campeão nacional de BTT aos 14 anos, chegando a representar Portugal em duas edições do Campeonato do Mundo (Escócia e Andorra), Pedro Câmara Jr, agora com 18 anos, revelou-se inalcançável no arranque do FPAK Júnior Team de Ralis (FJT). Liderou o Rali de Castelo Branco e Vila Velha de Ródão da primeira à última classificativa com o Peugeot 208 Racing, mesmo tendo sido a sua estreia em classificativas de asfalto. Aos 18 anos, o jovem piloto açoriano, natural da Ribeira Grande, que desde tenra idade entrou no mundo da competição com motores, começando pelo motocross e depois seguindo a carreira do pai (Pedro Câmara) nos ralis, deixou excelentes indicações no seu primeiro rali enquanto membro do FJT.
Há algo de semelhante, em termos de trajeto, entre ele e o antigo piloto francês Nicolas Vouilloz, que depois de ter sido 10 vezes campeão mundial de dowhill (BTT) na década de 90 fez uma carreira de sucesso nos ralis durante várias épocas. Foi piloto oficial da Peugeot e da Skoda, vencendo a edição do IRC (hoje ERC) em 2008, com o Peugeot 207 S2000, ano em que triunfou no Rali Vinho da Madeira, brilhando ainda nos ralis dos Açores e de Portugal.
Pedro Câmara Jr reconhece que os vários anos como praticante de downhill lhe permitiram desenvolver competências hoje essenciais para quem guia um carro de ralis.
– Sem experiência no asfalto, qual foi a parte mais difícil do Rali de Castelo Branco e Vila Velha de Ródão para quem se estreava nesse tipo de piso?
“A minha inexperiência a guiar em classificativas de asfalto deixou-me em situação de desconforto, porque nesse tipo de piso anda-se bastante rápido e para rodar a um nível elevado é fundamental fazer trajetórias muito precisas. De um modo geral, os troços eram bastante rápidos e havia curvas a ‘cortar’, mas como éramos dos últimos a arrancar, já apanhávamos a estrada muito suja, o que tornava as coisas ainda mais difíceis. Essa foi a parte mais complicada, que era, de algum modo, tentarmos prever aquilo que íamos encontrar, curva após curva. Ou seja, se estava sujo e qual poderia ser o comportamento do carro em diferentes situações”.
– Quando fez o melhor tempo na classificativa de abertura, o que lhe veio à cabeça?
“Nós já tínhamos feito um bom registo no shakedown e, portanto, não fiquei muito surpreendido. Estava ciente das minhas capacidades e daquilo que sou capaz de fazer. Sabia que com o Peugeot 208 Racing não dava para tirar muito mais, face, também, às condições de que dispõem os cinco pilotos do FPAK Júnior Team. Claro que fiquei bastante contente e feliz, porque estava a ver os frutos do nosso trabalho e empenho”.
– Os reflexos e a leitura do terreno adquiridos no downhill, quando o Pedro competia no BTT, ajuda-o, de algum modo, como piloto de ralis?
“Sim, eu penso que ter começado no motocross e depois passar para o downhill é uma vantagem muito grande para mim, porque hoje isso ajuda-me bastante a nível de reflexos. Além de me sentir mais seguro, dentro do carro as coisas acontecem muito mais devagar do que no ‘mountain bike’, em que é mais complicado, pois há muitas pedras, mudanças de direção bruscas, tudo isso a alta velocidade. Daí a minha vantagem, pois no carro tenho mais tempo para pensar, é tudo mais fácil. Sem dúvida que os reflexos adquiridos no ‘mountain bike' me ajudam bastante nos ralis”.
– Aconteceram alguns sustos durante este primeiro rali ou a tua rapidez era marcada por uma margem de segurança?
“Neste projeto, o nosso objetivo é terminar ralis e adquirir experiência, além de, se possível, tentar vencer ralis e o FPAK Júnior Team. Andámos sempre com uma margem de segurança, pois não queremos forçar nada e cometer erros estúpidos neste início da minha carreira. Não quero deitar tudo a perder nos primeiros quilómetros, sendo que agora nesta fase será fundamental acumular o máximo possível. Claro que houve um susto ou outro, devido a situações inesperadas, por ser pouco experiente e não saber o que me ia surgir pela frente. De um modo geral, andámos no nosso ritmo e sem loucuras, ficando bastante feliz com o resultado final”.
– Alguma vez sonhou, na estreia no FJT, dominar um rali do CPR da primeira à última classificativa?
“Sinceramente, não estava à espera de dominar por completo, mas ambicionava conquistar o melhor resultado possível e trabalhei para isso. Adoro ralis, penso que isto é só o começo e julgo que daqui em diante vamos conseguir utilizar técnicas que nos permitirão obter melhor resultado e evoluir mais como piloto. Estamos a começar e ainda há muito para aprender, quer ao nível da minha pilotagem, quer mesmo em relação ao carro. Direi que ainda temos uma boa margem de progressão pela frente”.
– E agora, o que vai mudar, na sequência desta vitória tão categórica?
“Não muda nada! É hora de continuar com os pés bem assentes na terra, como sempre estivemos, e continuar a trabalhar com empenho e determinação, de modo a que no próximo rali seja possível surgirmos já a um nível mais alto e, também, dar espetáculo ao público, que é também outro dos objetivos”
– Qual foi o maior elogio que o Pedro Câmara Jr ouviu em Castelo Branco, no final do rali?
“Recebi bastantes elogios, algumas dos quais me surpreenderam, como as de pilotos de craveira mundial, como o Sordo e o Meeke. O que me disse o Meeke? Deu-me os parabéns, referindo que eu fizera uma prova espetacular, mostrando consistência e rapidez”.